domingo, 27 de dezembro de 2009

PMEs à deriva na net

Oitenta por cento dos websites das PMEs portuguesas (e não só) são fracos, sendo a maior parte deles, mesmo muito fracos. Os seus conteúdos são pobres, estáticos, sem grande relevância, não nos cativam, não nos surpreendem, não interagem connosco e, claro, não nos fazem voltar. Na melhor das hipóteses, o site é um copy/paste da brochura da empresa dividido por meia dúzia de secções.

Um dos grandes problemas dos projectos web é que as empresas andam a dar mais importância ao formato que ao conteúdo. O design do site é o que parece mais importante e aprovam-se muitas maquetas finais, e até se programam sites, ainda com textos simulados.
Um site é muito mais do que design! É interactividade, é ser realmente útil e disponibilizar informação e serviços relevantes para o seu cliente ou potencial cliente. É ser usável, é ser navegável, é ser agradável, é comunicar… e o design apenas existe como facilitador desta realidade.
Senão vejamos, já pensou que a essência da Internet está na informação e interactividade? Isto é, a Internet nasceu da necessidade de comunicar (começou com troca de informação entre organizações nos EUA). Já reparou que a página que você mais visita (google) tem fundo branco, textos a preto em tipo de letra simples (arial) e links de texto a azul?
Veja os sites que tem nos seus favoritos e pense porque é que os visita. Porque são úteis, interactivos… e olhe que geralmente geram bastante retorno financeiro, directo ou indirecto.


Esta “apatia digital” acontece essencialmente por 3 factores relacionados:

Primeiro pela Internet em si. Ela é um meio de comunicação muito recente e muito diferente dos meios tradicionais, sendo por isso muito difícil para empresários e marketeers, em conjunto com os web designers, adaptar, de forma realmente criativa e inovadora, o seu negócio à web.

Em segundo lugar devido ao cliente que não é exigente nem sensível às potencialidades do meio. A maioria dos empresários das PMEs têm dificuldade em sentir o retorno financeiro e de notoriedade que uma boa aposta neste meio pode gerar, delegando a responsabilidade de gerir o projecto a colaboradores pouco qualificados ou directamente no fornecedor web. Como é óbvio, ambos têm muito menos conhecimento do negócio do que o empresário.
A agravar o problema, isto é acompanhado de um budget psicológico que é manifestamente insuficiente para contratar uma empresa profissional e desenvolver um projecto de sucesso. Isto muitas vezes “mata” o projecto à nascença, assim como impor prazos reduzidos é contra producente. Um projecto web de sucesso deve ser bem amadurecido. Começa com uma boa análise à concorrência e uma boa definição da estratégia a seguir.

Em terceiro lugar, temos os fornecedores de serviços web. Assistimos ao seguinte fenómeno: grande percentagem das empresas web que nascem… morrem no mesmo ano.
Vejamos o seguinte, quem cria empresas de web design por norma são designers que se juntam com programadores, provavelmente com poucos ou nenhuns conhecimentos de como gerir uma empresa. A agravar a isto, para desenvolver um projecto web à medida (não contando com soluções pré-programadas), são necessários, logo à partida, o dobro dos recursos humanos do que, por exemplo, um projecto de design editorial (brochura, catálogo, folheto ou uma identidade corporativa). Isto é, além do designer web, é sempre necessário um programador – não queira pôr o designer a programar nem o programador a desenhar pois "dá asneira", são competências diferentes! Por isso é que recorrer a um freelancer para desenvolver o seu website não é uma boa aposta, pois uma das componentes provavelmente vai falhar.

Assiste-se assim à seguinte realidade…
Maus fornecedores e um cliente muito pouco pró-activo, pouco exigente e que não investigou convenientemente o meio e a concorrência, resultando numa fraquíssima fluidez dos projectos, com conteúdos que tardam em não aparecer e “derrapanços” de meses (…que causam no próprio cliente insatisfação, e sem saber porquê).
Mas caso se consiga terminar o projecto web antes da empresa de web design fechar, isso já é bom!
Por tudo isto, é fácil perceber que muitas pequenas empresas de web andem a praticar preços que não pagam o custo hora do designer, do programador, do comercial, para não falar dos custos com deslocações ao cliente e a percentagem dos restantes custos fixos que deviam estar afectos ao projecto.
Com clientes pouco exigentes e preocupados e fornecedores a prestarem um serviço muito deficiente, o resultado final é o que está à vista!

Autor: Paulo Taveira, Director geral da Designarte® – Brand Activation.

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